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Foto do escritorMaria Eduarda Oliveira Pires

Uma exegese diferente

Para a sobrinha Nanna


1. Saudação e objetivo

Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssima filha no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, escrevo-te no seu precioso sangue, desejosa de ver-te verdadeira esposa de Cristo crucificado, evitando tudo o que te impeça ter Jesus como bondoso e sublime esposo.




2. Nosso coração é como uma lâmpada

Pois tal coisa não conseguirás, se não fores como as virgens prudentes (Mt 25), consagradas a Cristo, que possuíam uma lâmpada, o óleo e a luz. Sabes, minha filha, o significado dessas coisas?


A lâmpada significa o coração, o qual tem a forma de uma lâmpada. Bem sabes que a lâmpada é larga no alto e estreita embaixo. Também nosso coração é assim, para indicar que devemos possuí-lo espaçoso, em cima, para os bons pensamentos, as santas imaginações e a oração contínua, retendo na memória, continuamente, os favores divinos, sobretudo os benefícios do sangue com que fomos remidos. Minha filha! O bondoso Jesus não nos resgatou a preço de ouro, prata, pérolas e demais pedras preciosas, mas com seu sangue. Tal favor nunca deve ser esquecido, sempre terá de estar diante do nosso olhar com santa e terna gratidão, pois é incomensurável o amor de Deus por nós. Deus Pai não recusou entregar seu Filho único a uma morte cruel na cruz para nos dar a vida da graça.

Eu disse que a lâmpada é estreita embaixo. Também nosso coração deve sê-lo em relação às realidades terrenas. O coração não pode desejar tais bens desordenadamente, nem desejá-los ou procurá-los mais do que for do agrado divino. Vendo que Deus nos provê com amor, nada nos deixando faltar, o coração sempre lhe será grato. Agindo assim, nosso coração realmente será como uma lâmpada.



3. O óleo é a humildade

Recorda-te, porém, minha filha, que tudo isso não basta se faltar o óleo na lâmpada. Com a palavra “óleo” entende-se uma delicada e oculta virtude, a grande humildade. Pois a esposa de Cristo tem de ser humilde, mansa e paciente. Tão humilde quanto paciente, tão paciente quanto humilde. Mas nunca alcançaremos a humildade sem o autodomínio.

É necessário que reconheçamos a nossa miséria e fraqueza, convencidos de que por nós mesmos somos incapazes de praticar qualquer ato virtuoso e superar lutas internas e inquietações. Não somos capazes de afastar de nós as doenças corporais, as dores, as dificuldades íntimas. Se fôssemos capazes, faríamos isso logo. Por nós mesmos, somos apenas vergonha, miséria, mau cheiro, fraqueza e pecado. Importa-nos ficar sempre embaixo, na humildade.

Mas não é bom permanecer apenas em tal conhecimento de si. A pessoa cairia no desânimo e na perturbação, chegando até o desespero. A isso procura levar-nos o demônio. É necessário conhecer também a presença de Deus em nós, refletindo que ele nos fez à sua imagem e semelhança, nos recriou pela graça no sangue do Verbo, seu Filho unigênito, e que a bondade divina age continuamente em nosso favor. Todavia quem se reduzisse somente a esse conhecimento de Deus em si, cairia na presunção e na soberba.

Ocorre mesclar esses dois conhecimentos. Não somente pensar em Deus, nem somente em nós. Assim fazendo, seremos humildes, pacientes, mansos. Possuiremos o óleo na lâmpada.


4. A luz é a fé

Devemos também ter a luz, a luz da fé. Mas os santos dizem que a fé sem as obras é morta. Ocorre, pois, agir sempre virtuosamente, abandonar a infantilidade das vaidades, não viver como jovem fútil, mas como esposa fiel, consagrada a Cristo crucificado. Desse modo, teremos a lâmpada, o óleo e a luz.

Diz o evangelho (Mt 25,2) que as virgens prudentes eram cinco. Pois bem, eu te afirmo que cada um de nós há de “ser cinco”, sob pena de ficar excluído das núpcias eternas. A palavra “cinco” significa nossa obrigação de dominar os cinco sentidos corporais, jamais ofendendo a Deus com eles, na procura de afeições ou prazeres desordenados com todos ou algum deles. Seremos “cinco”, dominando os cinco sentidos do corpo.

Mas recorda-te: o esposo Jesus Cristo é ciumento de suas esposas; eu nem saberia dizer quanto! Se notar que tu amas outras pessoas mais do que a ele, ficará indignado contigo. E se não mudares (teu comportamento), para ti não será aberta a porta do lugar onde o Cordeiro imaculado celebra as núpcias com todas as suas esposas. Quais adúlteras, seremos rechaçadas à semelhança daquelas cinco virgens imprudentes.

Elas se gloriavam única e tolamente de sua integridade e virgindade corporal; por isso perderam a virgindade da alma, pela corrupção dos cinco sentidos do corpo. Faltava-lhes o óleo da humildade e suas lâmpadas se apagavam. Então foi-lhes dito: “Ide comprar o óleo” (Mt 25,9). Nessa passagem o “óleo” indica os atrativos e engodos mundanos, vendidos pelos aduladores e lisonjeadores do mundo. Como se o esposo dissesse: “Não quisestes comprar a vida pela virgindade e boas obras; preferistes os galanteios humanos e por eles vivestes. Ide comprá-los. Aqui não entrareis”.


5. Catarina aconselha a vida consagrada.

Minha filha, toma cuidado com os elogios dos homens. Nunca procures ser elogiada por alguma boa ação que praticares. A porta da eternidade não te seria aberta. E porque eu considero ótima aquela estrada (da vida consagrada), disse antes que desejava verte fiel esposa de Cristo crucificado. Peço e suplico que te esforces para o ser.


Nada mais acrescento. Permanece no santo e doce amor de Deus.


Jesus doce, Jesus amor.


Fontes: Cartas Completas de Santa Catarina de Siena- Paulus e Pinterest

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