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Foto do escritorMaria Eduarda Oliveira Pires

Quais são os sinais indicadores do chamado à vida religiosa?

Como a vida religiosa é uma vida excepcional, são precisas, para se entrar nela, garantias que fazem da entrada para o convento um empreendimento legítimo e prudente.

Como se sabe que se pode?

Como se sabe que se deve?

Problema por demais complexo! Existem tantos atalhos que conduzem ao mosteiro! Tantos e diversos segredos aí se escondem! Cada alma tem sua personalidade. A graça é tão pronta! As naturezas variam tanto! A história de cada um é tão pessoal! No entanto, existem algumas regras gerais.



O caminho de veludo


Desde que se sentiu o primeiro chamado de Deus não se pensa noutra coisa. Não se sonhou com outra coisa. Tudo leva ao convento. Tudo para ele atrai. Uma espécie de instinto vital, cada ano mais forte e seguro, para ele arrasta... Já se nasceu Religiosa...

Então é coisa simples. A hesitação não é permitida, visto não se levantar nenhum obstáculo impressionante. Chegada a idade conveniente, vai-se!


É a vocação por inclinação e que, em circunstâncias especialmente favoráveis, quando a família encoraja em vez de se opor, passa-se suavemente do lar ao noviciado, sem aparente dificuldade.


O caminho de rochedo


Desta vez não sentiu a atração. O pensamento do convento ainda não penetrou no íntimo da criatura, como um fermento sempre em ação, nem cruzou o horizonte da vida como um sonho cuja beleza atrai! Ao contrário, friamente, por um exercício de vontade, a alma em que Deus age é obrigada a refletir.


Apresenta diante de si a vida religiosa como um problema que ela mesma deve resolver, seja num ou noutro sentido. Ela o encara como o melhor caminho para a salvação, como o mais belo emprego de suas forças íntimas.


A natureza não impele, nem mesmo o temperamento. Mas a vontade reina e decide. É um caminho rude, que sobe cheio de pedras, sem árvores que façam sombra. A jovem obriga-se a caminhar, um pouco semelhante às horas secas de piedade, quando se impunha meditar e rezar. E ela o faz sem outra alegria sentida senão a de uma resolução tomada e a de um dever praticado.


O caminho de areia movediça


É o caso das vocações que se iniciam nitidamente, segundo um rumo bem traçado, e que, pouco a pouco, como os caminhos do deserto que se perdem na areia, ficam incertas de si mesmas.


Não se sabe se é sim ou não, para aqui ou para lá. Porque é ora para um lado, ora para outro, e ora para ambos. Um eterno “talvez”. E não se chega a tomar uma decisão única porque, logo que se pensa decidir, a decisão contrária se tornará possível também.


Algumas vezes, nem sempre, falta coragem ao coração, que fica tão incerto. Outras vezes é questão de temperamento e outras ainda depende do modo com que Deus está agindo. Os santos nem sempre estão seguros do caminho a seguir, quando se trata de sua santidade. E porque, então, quando se trata do seu destino, as jovens hão de estar certas do caminho a percorrer?


Mas é um caso bastante doloroso para em geral ser tratado com bondade. As jovens que estão envoltas por essas sombras devem sondar ainda seu íntimo e procurar socorro.


O caminho de Damasco


Brusca parada em pleno caminho. Um divino imprevisto. Saulo ia em perseguição de Cristo e eis que Cristo o chama para fazer dele um apóstolo.


Jovens há que estão felizes e tranqüilas. O mundo não é para elas uma tremenda decepção. O casamento lhes sorri. Nenhuma touca branca lhes aparece em sonhos. Bastam-lhes os dez mandamentos. Pretendem segui-los e é só. E porque não? Desde que Deus não lhes pede mais nada, terão elas de oferecer mais? Deliciosamente, como o monograma no canto do lenço, bordam em sua juventude o monograma do amor. Se lhes disserem que um dia... serão... (oh!) Religiosas! O queixo lhes cairia! Ser-lhes-ia necessária uma hora para fecharem a boca...


E, no entanto... Ele espera. Quem é esse Ele? Deus.


Sem prevenir, igual aos ladrões, invade essa calma, perturba o suave sonho. Elas nada compreendem. Os que as cercam também nada entendem. Mas existe algo. A alma esta aterrada. A terrível pergunta foi feita: “Queres?” E, mal sabendo o que dizer, respondem: “sim”.


A derrota foi rápida e total. Total a vitória de Cristo. Houve como que uma invasão de luz resplandecente.


E aquela que, no inverno passado, dançava nos bailes até tarde, neste inverno não dança mais. Já traz sua pequena touca de postulante. O único que dança é o diabo que, furioso, a convida a vir dançar novamente o tango...


O caminho da batalha


Neste caminho Jacó lutou contra o Anjo e este foi o vencedor.


Mais do que geralmente se acredita, vocações de certas moças iniciam-se como um encontro de patrulhas, como um choque de armas. Deus e elas. Deus que quer e elas que resistem. Deus é um temível jogador, mas certas almas são rudes adversárias! Durante muito tempo, vendo-O vir de longe, têm evitado o encontro. Agora não há mais jeito. Ambos estão em combate. Não seria mais emocionante assistir ao espetáculo de dois lutadores em plena arena antiga. A sorte sorri, ora para um, ora para outro.


E, quando termina a luta, na submissão total da alma, num longo consentimento da vítima, que atira seu “sim” como se estivesse numa lenta agonia, resta uma Religiosa a mais ao serviço de Jesus Cristo.


Mas algumas vezes, como se não pudesse defender-Se, Deus é vencido! Respeitando a liberdade, querendo para Si uma alma e não uma escrava, pois que ela recusa, Ele desiste, faz-Se de vencido e retira-Se como um ferido...


Uma Religiosa a menos na Terra.


E inaugura-se um futuro cheio de mistério. Infelizmente, tais vitórias são para a alma a pior das vergonhas. A coroa das condenadas muitas vezes é feita desses triunfos.


O caminho de Getsêmani


É o caminho das dores que conduz ao grande Amor. Quem póde proibir a Deus de escolher Suas eleitas entre as vítimas da vida? E quem é capaz de encontrar defeito no que Deus faz? Quem póde condená-lO porque recolhe náufragos, adota órfãs, oferece o coração a fugitivas e povoa Sua casa com jovens feridas que Ele uma noite recolheu quando percorria o campo de batalha? Deus penetra pela ferida aberta num jovem coração de vinte anos. Está em Seu direito. Ofereceu-Se para vir substituir alguém que partiu. Será a mamãe que morreu. Será o noivo que partiu bruscamente.


Então, uma vocação religiosa originada de uma desilusão amorosa? E porque não? Tantos artistas há que executam sua obra-prima sob uma amarga decepção! E porque não poderá uma jovem transformar a dor numa vida religiosa? Que mal existe se a tristeza desta jovem, transformada em divino amor, faz a felicidade dos pequeninos de que ela cuidará na creche, dos velhos que ela acariciará no hospital...?


Essas vocações têm direito a um respeito comovente.


Seria preferível que a jovem transformasse sua tristeza em desespero e vergonha? Como é que não se compreende poder o sofrimento, que é luz, revelar também bruscamente um caminho até então desconhecido e projetar da porta fechada do convento uma suave claridade que convinha a vir bater a ela com as lágrimas nos olhos?



fonte:file:///C:/Users/usuario/Downloads/Jovens,%20vocês%20e%20a%20vida%20-%20Fr.%20Bellouard.pdf,Pinterest


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